Como pode o meu coração, de um dia para o outro, ficar dimensionado a uma ervilha e pesar toneladas?
sim... estou a falar contigo! responde-me! tu que vives dentro de mim e não me obedeces! mal agradecido!
Levo-te a passear, ofereço-te tantas coisas boas e é assim que me tratas? Eu própria fico do teu tamanho quanto me respondes assim, deixas de ser o meu núcleo, passas a ser o meu SER!
Não, não respondas às urgentes perguntas que te fiz! deixa-me confinada a um grão de pó... achas que mereço?
Às vezes és cruel ao ponto de me matares a sede com água salgada... bem... talvez seja melhor não te falar assim em liberdade! ... não vás tu revoltar-te e pregar-me alguma partida das tuas!
"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas.
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio.
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação.
Não posso adiar o coração."
António Ramos Rosa
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