Quando eu era criança adorava comer biscoitos com marmelada e pão com tulicreme... sopa de feijão é que não!... que paciência a da minha mãe... para os jantares intermináveis!
Gostava de saltar à corda, ver o Topo Gigio e trincar iogurtes,
Lá em casa faltava espaço para os meus movimentos de braços e pernas, seguidos dos intermináveis rodopios sobre os móveis e corridas pelo corredor... a minha avó ralhava... e o meu avô dizia "deixa lá a miuda!"
Lembro-me de estar horas a fio em frente ao espelho com dois pedaços de pano e calçar as botas de 3º andar da minha mãe,
No verão gostava de passar a tarde dentro de água, até os dedos ficarem roxos e engelhados... e a seguir comer um delicioso Epá!
Lembro-me dos serões do 1.. 2.. 3 e de fazer sempre os trabalhos da escola assim que chegava a casa... mas a tabuada era aborrecida!
E as histórias do colo da minha avó?... ouvia-as vezes sem conta!
Lembro-me da mão grande e segura do meu pai, da voz grossa... e dos "enxota moscas" da minha mãe...
É bom lembrar que fui uma criança feliz!
Hoje que o temperatura baixou senti saudades tuas!
Lembrei-me do ruído provocado pelas botas que pisavam os trilhos de neve,
Senti a importância da presença dos amigos,
Relembrei o sabor amargo e salgado das lágrimas que caiam uma a uma no prato da sopa,
Ouvi palavras oucas de uma lingua distante,
Percorri lugares da minha memória que o tempo jamais apagará,
Vi caras que ficaram gravadas num espaço que guarda "pessoas desconhecidas",
Hoje recordei-te!
Sinto-me sem nada para dizer ou escrever...
Sinto aquele silêncio que apetece, aquele silêncio de calmaria, aquele que conforta por não serem precisas palavras para se terem conversas longas e aprazíveis...
É esse silêncio que me habita...
Não é um silêncio escuro, não não o é...
Não é aterrador nem só..
Não é um silêncio de casca de noz...
É um silêncio de longe, mas ao mesmo tempo perto, tão perto...
É apenas um silêncio com tudo o que ele tem de bom!
Porque é que o céu é azul?
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