Fecho a porta de casa e sinto a pele fria, a sensação de saudades que só o Outono nos oferece, a sensação de que uma nova estação virá... a espera das pantufas, o aquecedor e aquele chá quentinho que aquece até a alma e nos faz sonhar e desejar os dias quentes e solarentos...
... é quase tempo de descascar e saborear uma laranja ao sol.. sentar no chão, num banco velhinho que o tio Chico deixou para nós e recostar na parede branca pintada pela claridade do sol.
É esse o tempo de recordar, de arrumar, de (re)sentir tudo o que o verão nos deixou, de voltar a olhar as chamas da lareira e ficar... ficar... de olhos fechados!
É tempo de suceder e anteceder, de desacelerar a correria desenfreada e incessante pelo amanhã...
... É tempo de "Guardar só aquilo que é bom de guardar" de abraçar tudo o que o tempo nos deu
... É tempo de não fugir a sete pés desta estação que nos permite o encontro connosco, do silêncio que aí reside, do eco que nos leva a olhar para dentro e nos confronta com os meios, as duvidas, as angustias e também as certezas e as convicções mais profundas...
OUTONO! Espero por ti!!!!
"Mas é preciso morrer e nascer de novo
Semear no pó e voltar a colher
Há que ser trigo, depois ser restolho
Há que penar para aprender a viver" Mafalda Veiga
"Quando estiveres velho e cansado
As mãos enrugadas e trémulas
E sentires os olhos a fecharem...
Lembra-te daqueles que te amaram e por ti passaram
Lembra-te de como crianças nos rimos e como adultos chorámos
E, quanto mais sentires os olhos a fecharem...
Lembra-te...
Nem sempre foste fácil
Tu bem sabes...
Nem sempre te compreendi
Eu bem sei...
Nem sempre fui fácil
Eu bem sei...
Nem sempre me compreendeste
tu bem sabes...
Agora sei quem sou
Sou pouco mas sei muito
Agora sei as coisas como são
Aprendi contigo! Aprendi com a ternura do teu olhar de todas as cores e sem nenhum horizonte
Contigo aprendi!
Só agora me dou conta
Como o tempo passou
Como gosto de ti
Como estou a sentir falta
Voo para o futuro à procura do passado
De um presente que ainda agora vivi
Como gosto de ti!
Dor, mágoa, tristeza...
É o que sinto
Quando estou longe e perto de ti
Dor do meu amor
Mágoa da tua indiferença
Tristeza...
Pureza, amizade, saudade
É o que sinto quando estou perto e longe de ti...
Pureza do teu ser
Amizade do nosso viver
Saudade...
Tão mal nos faz ver alguém
Tirar proveito de algo que deveria ser nosso
Não desacreditei porque não me esqueci
Nem do sonho
Nem de ti!
Talvez daqui a uns anos
A saudade não seja uma ferida aberta
E mesmo as recordações mais euforicamente alegres
Serão tristes..
E mesmo as recordações mais euforicamente tristes
Serão indiferentes...
E quando finalmente fechares os olhos
E deres o teu último suspiro
Ouvirás a minha voz amiga, mesmo sem estar presente
A dizer: amei-te eternamente!"
Manuel Bandeira
" Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Por causa da casa e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em «diálogo». O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornam-se sócios. reunem-se, discutem problemas e tomam decisões.
A paixão. que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam «praticamente» apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio ao amor puro e duro, ao amor cego, ao amor estúpido, ao amor doente, ao único amor verdadeiro que há.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão coberdes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros, malta do « tá bem, tudo bem», tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banancices, matadores do romance, romanticidas!
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma judinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso «jeitinho sentimental»!
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja, foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor! é essa beleza, é esse perigo!
A vida às vezes mata o amor. A vidinha é uma convivência assassina!
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição!
O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. è a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não comprende.
O amor é uma verdade. è por isso que a lusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar. O coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para se perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também"
Miguel Sousa Tavares. (Obrigado a quem partilhou este texto fantástico comigo)
... o meu castelo com janelas viradas para o rio,
Apago as paredes mal caiadas e os cães que ladram ao abrir de uma porta e faço crescer um pé de feijão que me leva onde quero estar e quase me deixa sentir a que sabe a lua!
Com o roxo eu pinto um baguinho de uva, com o preto e branco as pedras da rua..
O sol é amarelo, azul é o mar, aqui onde quero ficar, rosa e laranja os sonhos que vão chegar!
Aqui, no alto da montanha, pertinho lá do céu pinto um castelinho onde um dia um rei viveu... Daqui se vê o céu, ao longe o mar.. quem me dera aqui morar!
"Com cinco ou seis rectas é fácil fazer um castelo (...).
Giro um simples compasso e num circulo eu faço o mundo. E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro estar. E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade, nem hora de chegar, sem pedir licença muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar. Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá, o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar" Toquinho
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