Cinco e meia da tarde, meia para as sete da hora antiga. Sento-me ao pé de mim para escrever, a caneta leva-me até ao último e unico andar do prédio, mais precisamente ao quarto vazio que mora dentro de mim!
Nesse quarto recheado de nada, noite após noite ouço um ruído que ensurdece o silêncio, um compasso proveniente de um relógio de parede que faz a soma dos dias como se de uma calculadora barata se tratasse.
Ao longo das quatro paredes brancas que me envolvem, estende-se a sombra imensurável de uma cadeira de baloiço que ainda se move...
No canto, amachucada e no chão, encontra-se uma folha descolorida, com palavras rasgadas e garatujadas de um dia mais colorido que aos poucos foi perdendo a tonalidade... já nada se lê! sobraram apenas as reticências e os "ses".
O vento que despreza a rua, entra sem pedir licença, entranha-se nas cortinas e desvenda o quotidiano, desenhos sobre a normalidade das pessoas que oferecem os "bons dias" umas ás outras... Chego-me à janela para ver!
Tropeço agora no tapete que outrora esteve estendido, bordado a fio de suspiro e estampado de imagens de momentos que me rasgam as defesas
Bocejo, fico enfadada, aconchego-me e preparo-me para passar mais uma noite em branco com receio de que os sonhos venham visitar-me e eu, por desleixo, esteja a dormir...
Lugares diários