Percorre-me o medo de não conseguir armazenar tantas histórias e memórias, o poder oxidante do tempo transforma tudo em quase nada...
O regresso a casa faz-se prever a cada solavanco desajeitado do sud-express. Comboio sem comodidade, recheado de um passado cheio de histórias que atravessavam o percurso Lisboa- Hendaye, sejam elas representadas por turistas, emigrantes ou simplesmente pessoas sem destinos ou encontros marcados.. Talvez, para alguns, apenas um lugar para escrever, pensar.. um lugar iluminado pelo nascer do sol e pelo café quentinho que se faz arrefecer entre mãos.
Durante a noite há um sem fim de aventuras, de quem regressa, para contar. Faz-se sentir um ambiente de nostalgia de um passado recente, que se junta naquele comboio, como se fosse uma ponte para os dias que aí vêm, a normalidade.
É nos corredores que todas as experiências se trocam de boca em boca. É ali que todos os momentos de desespero, eventualidades, planos trocados e não planeados, noites mal dormidas, o ultrapassar dos limites, comboios perdidos... tudo se transforma! Ali e agora, numa ou mais histórias de aventuras contadas com um brilho intenso nos olhos, um misto de saudosismo português, conquista lusa e todo o passado que nos corre nas veias.
Reina uma nobreza de ser igual, um compromisso selado pelas mochilas pesadas que se carregam nas costas e as fazem curvar..
Estas linhas cilindradas por um comboio de regresso a casa, fazem-se alinhar num album perfeito, independentemente da caligrafia, o local ideal para ternimar ou deixar adivinhar o fim de qualquer história.
São linhas que se pautam entre vales, ao longo da serra, à beira de rios e casas que com o decorrer do percurso se podem etiquetar por zonas, por necessidades, por climas..
Há mesmo qualquer coisa de diferente, de extraordinário, no contar de histórias a bordo de um comboio que regressa a casa, uma partida sem regresso, um chegar de concretização e realização..
A minha aventura é a mais emocionante, os maiores riscos fui eu que os corri, como não? se fui eu a personagem principal!... mas é tão bom ouvir.. deixarmo-nos encantar por destinos de outros que talvez sejam um dia nossos também.
Tudo parece ter, ali, apenas o preço do desejo. O planear e o concretizar têm o menor custo que depois é recompensado com a elevada vantagem ao longo de cada caminho..
Caminhos e histórias que estão ainda à flor da pele!
Regressos... hoje é dia de regressos
Não sei bem porquê mas quando penso em regressos lembro-me de abraços, talvez seja essa a sensação, talvez de afago.
Um tempo de segurança, de origem, um tempo de "re" começar, "re" ver, "re" atar.
Tempo de matar umas e semear outras saudades.
Hoje quero deitar fora a sensação de fim de férias, quero sentir-me feliz por regressar!
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