Ás vezes é dificil não escrever com as palavras que contam, o bisturi conta e corta, queremos proteger os sentimentos... protegê-los do frio, da erosão do tempo, das pessoas, dos ditos e mexericos, do poder da lingua e de lhes acrescentar isto e aquilo e da tendência da lei da gravidade, do dote de os esvaziar igual balão que se perde no ar...
Ás vezes é dificil organizar os próprios sentimentos e traduzi-los em caracteres, arrumá-los em frases, metáforas e ditongos que contarão histórias e já se sabe: "quem conta um conto acrescenta sempre um ponto", afinal é essa a beleza de ler uma carta, de ouvir uma lenda, de olhar uma tela. As palavras, essas, são as mesmas, o código é universal com poucas ou pequenas variações e conspira contra, ou até, talvez, por vezes a favor de quem o escreve... pode ser de algodão, pode ser agressivo, pode ser a lápis de carvão ou pode mesmo ter a melhor intenção, mas a sua compreensão nunca será uma ciência exacta. Existiria uma segunda matemática, outra geografia, outra linha de montagem que roubaria à escrita a delícia que é mantê-la em segredo.
... e ainda há outras vezes em que as palavras são só nossas e ficam arrumadas no caderninho de linhas direitas e a fio como que segredos que não queremos contar!
Parece-me bem para (re)começar...
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