Para a despedida...
De todos, o mais rigoroso!
... que deixou tantas saudades, mesmo com todas as lágrimas que comi no prato da sopa!
Querida Primavera,
As noites continuam enormes e os dias, imperfeitos como um poema inacabado... tu não estás!
Não pára de chover lá fora. Tu foste e nunca mais voltaste, mentiste com ar convicto de quem chega naquele dia que teima em não acontecer, e eu aqui estou sem saber se vá, se fique, se te confronte e te aprisione (como se isso fosse possível).
Juro, um dia faço-te uma espera e digo-te uma daquelas frases dos pacotes de açucar nicola... O chá está frio, deixaste que arrefecesse, assim, sem dares sinal de vida. Juro mesmo! Visto-me a rigor, ainda que fique com pele de galinha, enfio o mais bonito dos meus vestidos, ensopo-me do melhor perfume, sadálias e confiança.
Quero-te perto, nas imediações, não me interessa se agora não dá, faz a trouxa e vem de malas aviadas, mesmo que não seja o tempo, que se lixem as datas, nada disso conta quando se suporta um Inverno assim...
Vem... Não me vires as costas, liga-me, escreve-me uma carta registada, um telegrama se preciso for. Manda recado pelo senhor da drogaria, sei que arranjarás uma forma.
Guardo de ti tão pouco, insuficiente...
Espera, bateram à porta, levando-me para abrir, desfaço-me em sorrisos... espera
Bolas! publicidade!... nada mais, pensei, sinceramente, pensei que fosses tu, que fosse esta a noite em que dormisse com a cabeça no teu colo, que me resgatasses do cansaço que me secasses a roupa e que o aquecedor deixasse de ser um mal necessário.
Julguei ser hoje o dia de armazenar as roupas de inverno, de deixar ao ar o mofo que se acumulou nas gavetas. Mas se é assim, amanhã fico indiferente, a achar a urgência que me consome um disparate sem cabimento .
Um beijo,
Teetee
Lugares diários