As histórias e memórias também viajam, umas põem a mochila ás costas e vão sem rumo, outras vão ao outro lado do mundo, a marrakech, bangkok, podem até atravessar o deserto num comboio de gentes ou os arrozais do vietname... mas sempre ao nosso lado!
Eis que ás vezes, sem hora marcada e sem lhes termos reservado uma passagem, esses pedaços de nós, porque assim os fazemos, podem apenas apanhar um electrico, descer no largo de Camões, passeando-se pelo bairro e simplesmente nunca mais voltar... Desobedientes e de orelhas moucas seguem o seu caminho, talvez para nos dizer que devemos seguir o nosso, obrigando-nos a largar tudo o que não sabemos largar e que só assim pode ser... à força!
Elas nunca olham para trás, da outra margem não querem cruzar o olhar com o nosso, também elas sentem esse apêgo e jamais morarão em outro corpo, jamais serão de outro alguém.
Sem corpo e alimento que as recorde, um dia servirão apenas de chão, sombra ou espaço que restou.
"Lembras-me o vento. A temperatura ambiente e uma ampulheta em constante metamorfose. Durante dias não sei de ti. Não que não te sinta, distantemente. Mas porque és um silêncio pintado de fresco em tudo aquilo que eu sei mas que não dizes." T. Poeta
Serei eu?
Depois de uma infância a ouvir canções lamechas "Loves changes everything"... Anos 80 soaram sempre a marmelada cor de rosa e tons pastel.
Bandas e vocalistas disputavam arduamente o troféu de lamechice. Letras causticas para a falta de esperança, o alimento mais nutritivo para quem acredita no final feliz
E os filmes?
É por essas e por outras que eu tenho dificuldade em ter os pezinhos na terra!
Papoila aqui... papoila ali...
Sataricando pelo campo, levei uma cesta
Ai que me pico aqui, ui cuidado com os buracos, vê onde pões os pés...
Lamento que a minha flôr preferida seja tão frágil e ao mesmo tempo tão selvagem. Sim, eu tenho esse dom de gostar da ambivalência, sempre me apaixonei por ambiguidades.
Hoje senti que devia ser presa, eu e todos aqueles que caçam papoilas!
Há lugares não traduzíveis por palavras, cada momento, sensação, emoção não tem palavras certeiras nem aproximáveis. Não existem palavras dignas, palavras espelho.
Tudo o que é "de dentro" é, por vezes, irremediavelmente "só nosso", impossível de partilhar com que não o vive, não experimenta.
A tristeza, a emoção, o desejo, a euforia, a saudade e tantos outros sentimentos e sensações são coisas do mundo de dentro ... se as palavras tivessem avesso... sim, se as palavras tivessem avesso talvez aqui conseguisse descrever o que hoje não consigo!
Amsterdam, saudades tuas
Lugares diários